No Consultório BEST desta semana, a Dra. Fernanda Costa fala-nos sobre o HPV (vírus do papiloma humano), como se faz o diagnóstico e tratamento e acompanhamento, e sobre a importância da vacinação.
O que é o HPV?
O vírus papiloma humano é um vírus que infecta a pele e mucosas. Atualmente conhecem-se mais de 200 tipos de HPV, classificados em vírus de “baixo risco” e “alto risco”, em função do seu potencial oncogénico.
A infeção pelo HPV é a infeção sexualmente transmissível mais comum, estimando-se que mais de 30 tipos são transmitidos por via sexual:
• HPV de baixo risco – associados a condilomas
• HPV de alto risco – associados a displasia (lesões pré-cancro) e cancro
Ele é responsável por quase todos os casos de cancro do colo do útero, das lesões pré-cancro e cancros anogenitais, da cabeça e pescoço, e ainda dos casos de condilomas anogenitais e de papilomatose respiratória recorrente.
Praticamente todos os homens e mulheres sexualmente activos são infectados pelo HPV pelo menos uma vez nas suas vidas.
A prevalência de HPV tem o seu pico alguns anos após o início da actividade sexual e aproximadamente 90% destas infecções são transitórias e depuradas entre 1-2 anos.
Estima-se que 70 a 75% dos casos de carcinoma do colo do útero estejam relacionados com infeção pelo HPV dos genótipos 16 e 18 e 90% dos casos de condilomas se devam aos genótipos 6 e 11.
Como se transmite?
Contacto mucosa/ mucosa e pele/ pele (mesmo sem penetração):
Genital/ genital
Genital/ anal
Genital/ oral
Infeção pelo HPV – difícil de detectar e controlar
A maioria das infeções por HPV são assintomáticas. Os preservativos protegem a infeção até 70% (os virus podem infetar qualquer parte da pele e mucosa genital). A maioria das infeções por HPV não são reconhecidas, são subclínicas e auto-limitadas. Apenas os condilomas e lesões neoplásicas podem ser clinicamente detectadas.
Não existe rastreio que permita prevenir outros cancros associados ao HPV além do cancro do colo do útero Estima-se que a probabilidade de transmissão em cada acto sexual com contacto genital seja por volta dos 40%.
Como se previne as lesões causadas pelo HPV?
Através da vacinação. Os sete tipos de HPV de alto risco da vacina Gardasil9â (HPV 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58) são responsáveis por cerca de 90% dos casos de cancro do colo do útero, 90% dos casos de cancro do ânus e cerca de 80% das lesões de alto grau do colo do útero (lesões pré-cancerosas do colo do útero) em todo o mundo.
As indicações para a vacinação incluem:
Prevenção de lesões genitais pré-cancerígenas (colo do útero, vulva e vagina, ânus)
Prevenção do cancro do colo do útero e do cancro anal
Prevenção das verrugas genitais externas (condiloma acuminado) com relação causal com os genótipos incluídos.
A vacina destina-se apenas a utilização profilática e não tem qualquer efeito nas infeções ativas por HPV ou na doença clínica estabelecida. A vacina não demonstrou ter efeito terapêutico.
A infecção prévia por HPV não confere uma resposta imunitária suficiente para futuras infeções e a imunidade natural não protege completamente contra a reinfeção.
A vacinação de mulheres até aos 26 anos, que por qualquer razão não foram objeto de vacinação no plano nacional de vacinação, é fortemente aconselhada. A vacinação de mulheres com mais de 26 anos tem uma relação custo/benefício discutível em termos de saúde pública, mas confere uma proteção individual significativa, pelo que é de aconselhar até aos 45 anos.
A evidência atual recomenda ainda vacinação dos indivíduos do sexo masculino até aos 26 anos, incluindo os imunocomprometidos como os portadores do VIH e homens que têm relações sexuais com homens.
Apesar das vacinas não apresentarem um efeito terapêutico, a evidência atual aponta para um potencial benefício da vacinação em mulheres com lesões cervicais, na prevenção de infeção/ reinfeção pelos tipos vacinais, bem como na diminuição da recorrência das lesões. Esta poderá ser administrada antes, durante ou após o tratamento.
A vacinação não requer a realização de qualquer teste e/ou exame prévios.
Se a mulher engravidar no decurso da vacinação, deve interromper o esquema e retomar a(s) dose(s) restante(s) depois do parto. Nenhuma das vacinas existentes confere proteção contra todos os HPV oncogénicos, pelo que a continuidade dos rastreios é fundamental. A vacina apenas protegerá contra as patologias provocadas pelos tipos de HPV presentes na vacina.
Como se trata?
Não existe tratamento que permita a eliminação do HPV. O objetivo do rastreio é prevenir o cancro do colo e não tratar todas as lesões causadas por este vírus.
Pontos-chave:
50% de novas infeções por HPV resolvem em 6-18 meses
80-90% resolvem em 2-5 anos
O período decorrente entre a infecão inicial e o desenvolvimento de cancro é de 10-20 anos (5-10 anos em doentes com comprometimento do sistema imunitário)
Portanto, como a maioria das lesões causadas pelo HPV não progridem para cancro, a abordagem correcta é estabelecer um plano de vigilância. O tratamento restringe-se às lesões que com maior probabilidade podem vir a originar cancro. Este último, quando indicado, é localizado (conização) pelo que não implica tirar o útero mas apenas a lesão.